Ilha de Ideias

sexta-feira, novembro 12, 2004

A Caminho de Coalinga

Depois de tudo o que já passou na vida, esta era mais uma fase difícil que tinha que ultrapassar. Ultimamente, Maria não conseguia fazer nada de útil.
No trabalho, era chamada à atenção por não conseguir fazer as tarefas que lhes eram recomendadas. Visto ser secretária numa empresa de contabilidade tinha que ter alguma responsabilidade. A única coisa que conseguia fazer com muita dedicação e muito prazer era cuidar do seu filho João.
João foi fruto de um casamento de 15 anos, que viveu com muito amor. Amor esse que ainda não acabou, mas que devido aos acontecimentos tenta esquecer.
Maria encontrava-se sentada na sala de sua casa num enorme sofá branco que comprara com o seu último subsídio de férias. Vestia uma saia azul comprida para tentar esconder a pequena barriga que tinha. Tinha uma camisola branca com uma enorme flor azul bebé no meio que ficava muito bem com o seu tom de pele (claro).
Os seus olhos enormes castanhos fixavam uma pequena mesa que havia em frente ao sofá, com uma toalha cor de vinho que tocava no chão e um lindíssimo candeeiro creme que estava ao lado do telefone.
Maria antes de dormir ficava ali sentada a fumar o seu cigarro e a pensar em tudo o que já passou na vida desde os momentos bons e os maus. Mas acontecia com mais frequência quando se sentia só e triste.
Pensava em todo o seu passado, passado esse que deixou muitas marcas. Desde a sua infância, no dia em que perdeu o pai quando tinha apenas 8 anos.
Maria recorda-se do pai como o amigo que nunca teve. A única lembrança que tem é um urso que o pai lhe ofereça num dos poucos Natais que passaram juntos. Polly(urso) era a quem Maria contava as suas alegrias e as suas tristezas. Este era um dos muitos pensamentos que Maria tinha sempre que se sentava naquele sofá. Mesmo com 40 anos guardava-o dentro de uma pequena caixa cor-de-rosa junto das suas cartas, fotografias e tudo o que considerava mais marcante na sua vida.
Embora Sara fosse a sua melhor amiga a quem contava tudo, havia momentos em que recorria a Polly pois achava que este não tinha mais amigos a não ser Maria.
Passados alguns anos aprendi que ninguém é dono de ninguém. Digo isto porque pensava assim. Julgava que pelo facto de estar casada há 15 anos com Ricardo, por ter tido um filho com ele e por viver quase uma vida com ele que já era meu.
Depois do maldito telefonema que recebi ontem do Ricardo não penso em outra coisa. Tenho que ser sincera comigo própria e perceber que tudo acabou, que fui trocada por outra ainda por cima mais nova, mais bonita e com um belo corpo. Regra geral é sempre assim.
Enfim, já tinha percebido, como qualquer mulher percebe quando está sendo trocada por outra. Mas tentei fingir que não era mais do que uma aventura. E que tudo iria voltar ao mesmo.
Naquela infernal tarde de ontem, estava o céu cinzento pois já era Inverno e um frio de rachar quando o telefone tocou.
- Estou Maria é o Ricardo. Que estás fazendo?
- Estava sentada no sofá a pensar na vida. E tu?
Só telefonei para dizer não volto e não sei se vou voltar.
Maria pediu que ele pensasse melhor na decisão que iria tomar e disse:
Ricardo ” mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”. Ricardo não hesitou e desligou.
Maria já estava à espera, mas não quis acreditar que tinha acabado de perder o seu grande amor.
Esquecer era impossível, mas talvez o melhor. Não há coisa pior para uma mulher do que sentir que foi trocada por outra ou ser rejeitada pelo homem que ama.
Enfim, vou seguir o conselho da minha grande amiga Sara:
“Não deixes que a tristeza do passado e o medo do futuro te estraguem com a alegria do presente”.
Assim talvez consiga continuar a minha vida ao lado do meu amorzinho João.