Ilha de Ideias

domingo, novembro 28, 2004

Contos de Sam Shepard - Depois

E tudo mudou, depois daquele telefonema em que senti o mundo a desmoronar em minha cabeça por pensar que deixei tudo por ela e agora vejo-me aqui sentado em frente a este jardim com tantas flores e eu sem nada.
Tudo, porque fui parvo em acreditar naquela mulher que nada merece senão o meu desprezo. Deixei a Ana com quem vivia uma relação estável de 15 anos, e, não é por ser minha mulher mas tinha tudo para fazer um homem feliz.
Ana era uma mulher exuberante, tinha olhos pretos, cabelos encaracolados pretos e compridos, era alta, magra, tinha umas pestanas enormes. Entre muitas qualidades que ela tinha, a minha preferida era a sua ternura. Era uma mulher meiga e simpática.
Jessica tinha algo de diferente de todas as mulheres com quem estive. A sua companhia fazia com que me abstraísse de tudo o que se passava no mundo. Parecia que o tempo não existia.
Jessica tinha 25 anos, era uma mulher linda, alta, magra, de cabelos e olhos claros. Depois de pensar em tudo o que passei com ela, e, por ela, julguei que valesse a pena abandonar a minha esposa e viver um amor profundo .
Quando decidi partir da minha casa para ir ao encontro não imaginava que fosse ser assim.
Ana depois de ter falado comigo ao telefone ficou a pensar: Como aquele homem mudou tanto a minha vida. A sua maneira de ser influenciou o meu comportamento.
Ricardo tinha 43 anos, era alto, moreno, cabelo grisalho, tinha uns belos olhos castanhos, com enormes pestanas e umas sobrancelhas bem delineadas.
O seu sorriso era lindo mas muito comprometedor. Ricardo era um homem muito calmo, reservado, conservador, mas no que diz respeito ao amor era muito impulsivo e um romântico absoluto.
Ana ficou a pensar no pedido que fez a Ricardo ao telefone:
"Volta e vamos tentar recuperar tudo aquilo que perdemos, vamos voltar a ser uma família feliz".
Ricardo, por sua vez, só pensava no que Jessica disse:
_ Ricardo, agora não dá mais. Estou de partida com o David para outra cidade, ele foi promovido e vamos tentar ser felizes. Esta última frase deixou Ricardo a pensar em tudo o que deixou para trás, desde a sua esposa e o seu filho.
Na paragem em frente, parou e dirigiu-se a um telefone público e ligou para Ana. Ana quando atendeu o telefone não quis acreditar.
- Ricardo és tu?
- Sim Ana. Não sei se mereço, mas peço que me perdoes. Sei que errei e prometo não desiludir mais até o resto da minha vida.
- Ricardo eu amo-te mais que tudo nesta vida, mas perdoar é coisa que não consigo, pois a dor é forte demais.
Quem sabe, um dia talvez.