Ilha de Ideias

terça-feira, março 08, 2005

Exercício da aula

Este trabalho foi realizado no âmbito da cadeira de Seminário de Escrita Criativa e Interactiva. O objectivo é construir uma história com base em dois enredos, dois locais e duas personagens criadas pelos alunos nas aulas.

Personagens
Alice Oliveira
Daniela Freitas

Enredo
Vítima de cegueira num assalto
Viligância global

Locais
Esplanada à beira mar
Átrio de um hotel

Alice era uma jovem mulher de 35 anos, independente, possuidora de uma inteligência acima da média. Dedicada no seu trabalho, passava dias e noites à frente do computador buscando a perfeição. Era editora num jornal cultural à cerca de 10 anos.
Não é por acaso que Alice se tornou uma mulher empenhada e lutadora. Aos 12 anos, o pai fugiu de casa deixando toda a família na penúria. Para colmatar esta situação, Alice viu-se obrigada a crescer precocemente, fazendo todo o tipo de biscates de forma a ajudar a sua mãe, cujo salário de mulher a dias não chegava para todas as despesas.
Aos 18 anos ingressou no curso de germânicas enquanto trabalhava num escritório de advogados como dactilógrafa. Foi aqui que conheceu Aníbal por quem se apaixonou na primeira troca de olhares. Passados alguns meses casaram no civil, visto não terem condições para uma grande festa.
Mas depressa o sonho de uma vida feliz se tornou num pesadelo tenebroso. Aníbal revelou ser um homem violento e alcoólico. Esta situação levou-o a ser despedido e o dinheiro que Alice ganhava não chegava para as despesas da casa e para sustentar o terrível vício do marido.
Apesar de não desejar a morte de Aníbal causada por uma cirrose galopante, Alice não conseguiu evitar o alívio que sentiu naquele fatídico dia.
Alice era uma mulher alta, de olhos e cabelos pretos. O seu rosto mostrava já marcas da vida complicada que tinha tido até então: olheiras escuras e profundas e algumas rugas de expressão. No entanto, a sua sensualidade não passava despercebida aos olhos dos vários homens com quem convivia.
Numa bela tarde, Alice decidiu ir para um sítio que lhe desse algum sossego para poder pensar sobre a sua vida e ao mesmo tempo arranjar uma solução para ajudar a sua grande amiga Daniela. O lugar mais apropriado que arranjou para tal situação foi o Café Central, muito conhecido pela sua grande esplanada à beira-mar.
As dezenas de mesas convidam os clientes a passar umas horas agradáveis a tomar algo.Todas as mesas e cadeiras são de verga, as mesas têm um tampo de vidro e as cadeiras têm uma almofada creme com pequenas conchas estampadas.Grandes chapéus-de-sol oferecem uma deliciosa sombra nos dias de mais calor.Todas as mesas têm um porta-guardanapos, um cinzeiro e um menu muito atractivo com vários cocktails; deliciosas tostas com o seu cheiro característico inundam o ar e fazem crescer água na boca a quem está na esplanada, baguettes, cachorros, saladas, batidos, sumos de fruta.
Nos dias de frio e para aquelas pessoas que não gostam de ficar ao sol, no interior do Café existe um pequeno espaço agradável, separado entre fumadores e não fumadores, para que possam ficar a observar através das janelas o que acontece lá fora.Como barulho de fundo surgem as conversas de quem ali está misturado com o som das ondas a rebentar na areia. As gaivotas voam em redor de um barco de pescadores que acabou de chegar. Enquanto estes recolhem as suas redes cheias, as gaivotas pairam por cima na tentativa de roubar algum peixe.
Depois de fumar quase um maço de tabaco e beber alguns batidos,Alice decide telefonar a Daniela para saber como tinha corrido a sua ida ao ginecologista. Após desligar o telemóvel, Alice fica a pensar como poderá ajudar a amiga a ultrapassar mais uma tentativa falhada.
Daniela tinha 30 anos e achava que era a altura ideal para ser mãe. Toda a vida foi uma mulher muito interessante, apesar de ser baixa e não ter umas feições muito bonitas, o seu estilo sobressaía sempre. Era uma mulher de muito bom gosto e gostava de coisas boas e caras, por isso, começou a trabalhar relativamente nova. Como reflexo do seu bom gosto e vontade de viver em contacto com as novidades de todo o mundo, Daniela foi trabalhar como hospedeira para a TAP.
Ela tinha uma boa condição económica e com a morte dos seus pais, herdou um prédio na zona velha de Almada, perto do Castelo. Foi então que, já casada com Filipe, seu namorado desde sempre, decidiram ter um filho.
O que a princípio parecia simples e a concretização de um sonho, tornou-se num empecilho nas suas vidas despreocupadas.
Tentaram vários tratamentos de fertilidade e nenhum deu resultado. Passaram-se alguns meses e, nada... Daniela começava a desesperar e a ficar cada vez mais obcecada com a ideia de ser mãe. Não se mentalizava com a situação e para ela já valia tudo.
Alice queria tentar ajudar a sua grande amiga nesta situação tão embaraçosa, mas não conseguia a solução para este problema desgastante. Passado algumas horas, Alice decidiu ir a casa da Daniela para tentar levantar o seu astral e propor-lhe a viagem que há muito desejam fazer juntas. Daniela não estava disposta a viajar nesta altura tão difícil da sua vida mas acabou por aceitar. Achou que poderia esquecer temporariamente o seu problema.
Chegado ao dia da viagem, Daniela e Alice dirigiram-se para o aeroporto como sempre muito bem dispostas e optimistas em relação à viagem que iam fazer.Logo depois do avião decolar, Daniela olhou para Alice e disse:
- Espero conseguir aproveitar esta viagem ao máximo e esquecer os últimos momentos terríveis que tenho passado.
Assim que chegaram à entrada do hotel foram bem recebidas pelos bagageiros que as ajudaram prontamente com as malas.Ao entrar depararam-se com uma porta giratória com um vidro tão transparente que quase se tornava invisível. Foram dirigidas à recepção por duas meninas muito simpáticas que lhes explicaram o que deveriam fazer para se instalarem no hotel.O movimento dos passos até fazia eco, tal era a imensidão do espaço. Ao fundo da recepção, perto dos elevadores, existia um espaço de convívio com sofás e mesas. Uma altura de 10 andares termina com uma gigantesca clarabóia que ilumina todo o átrio do hotel.Em redor do átrio existiam belos e enormes vasos com plantas vistosas que davam um belo colorido ao espaço. No lado esquerdo da entrada havia uma grande gaiola com umas quantas espécies de aves exóticas com penas bem coloridas que davam outro ânimo ao ambiente uma vez que estavam sempre a chilrear. Havia muita agitação de pessoas a entrar e a sair constantemente, hóspedes e empregados.
Assim que chegaram ao quarto a primeira coisa que fizeram foi dirigir-se à varanda para ver a vista que esta lhes proporcionava. Ficaram radiantes com tudo o que as rodeava, desde o hotel de 5 estrelas, a varanda, os empregados e o pouco que viram do Brasil. Descansaram um pouco, assim que acordaram decidiram jantar num magnífico restaurante que ficava mesmo na rua em frente ao hotel.
Conheceram muitos lugares, divertiram-se imenso, "esqueceram-se" na medida do possível, os problemas reais de suas vidas.
Num dos passeios que faziam à noite, Daniela e Alice jamais esquecerão aquele fatídico assalto que assistiram de perto enquanto passeavam.
Dois jovens apaixonados, casados, sairam a meio da noite a correr pelas ruas da cidade , local onde Daniela e Alice passavam. Verificava-se então que a sua casa estava a servir de barricada, de um grupo de ladrões que tentava assaltar o banco que ficava no lado oposto da rua. A jovem tinha acabado de sofrer algumas escoriações na vista, vítima da violência dos ladrões , acabando por ficar invisual.
Não queriam acreditar no que estava a acontecer naquele preciso momento.Os assaltantes conseguiram escapar dos policiais e levaram consigo todo o dinheiro do banco.Madalena (principal vítima do acidente) acabou no colo de Daniela com a cara coberta de sangue. O seu marido fcou deitado no chão quase inconsciente devido à pancada que levou na cabeça durante o assalto.
Quando a ambulância chegou e a polícia, Daniela e Alice foram testemunhar o ocorrido por livre e espontânea vontade. Estavam indignadas com toda aquela balbúrdia que ocorrera naquele simples passeio.
Devido à violência do país, o governo obriga todas as pessoas a instalar câmaras de vigilância em todas as divisões das suas casas. Estas câmaras estão ligadas directamente a uma central de controlo da população. O governo tem acesso a todas as acções das pessoas, nomeadamente o assalto do casal recém casado e de tudo o que integrou o mesmo. Sendo que tudo acabou como deveria. Os assaltantes foram condenados, o casal recebeu uma indemnização do governo e este contribuiu com todas as despesas necessárias para a operação ao globo ocular esquerdo de Madalena.